Hoje, 11/03, faz um ano que quebrei o meu pulso direito, em "comemoração", fiz um texto relatando esta época "alternativa". Aproveitem e boa leitura!
Diário De Um Engessado
Tudo começou no dia 11 de março de 2010, fui para a escola com dúvidas se haveria aula em função da greve. Quando cheguei lá, fiquei sabendo que não ia ter aula e os professores estavam montando um esquema de som para falar como o governo Serra os tratavam mal, que no próximo ano, já estariam todos desempregados, (nenhuma destas aconteceu) e nos liberaram às 8h, e aí meu amigo... Mas antes de chegar ao clímax, irei contar alguns detalhes:
*Estava jogando truco quando a diretora pegou o baralho e entregou ao meu maior desafeto escolar na época, o professor Jorge, e como o baralho não era meu, prometi a minha amiga Ananda que pagaria outro, já que não iria fazer minha mãe ir lá novamente em menos de um mês de aula, ainda mais para pegar um BARALHO QUE NEM ERA MEU.
*Eu já havia sido chamado na entrada do portão da escola para ir ao Bosque Maia, (uma espécie de Parque do Ibirapuera de Guarulhos, com todas as proporções possíveis) mas decidi ficar mais um pouco com receio de dar algum problema futuro...
* Eu cheguei a pensar em ir para casa quando fomos liberados, pensei, não raciocinei.
Clímax
Saindo da escola, que fica perto do Bosque Maia, encontrei alguns colegas que jogam basquete na escola e que estavam indo jogar basquete, mas como ando rápido, acabei chegando lá mais rápido do que eles, e encontrei alguns outros camaradas, e ficamos conversando até os que jogam basquete chegar:
*Um deles, o Caíque, estava jogando bem, também fiz minha parte, fiz várias cestas de três pontos e algumas de dois pontos, é incrível como uma pessoa que tem aptidão para jogar basquete (NEGRO) não é boa em esportes...
*Na tenda azul estava tendo uma aula de dança, sabe, aquelas com colchonetes e calças lycras? Exato!
Joguei basquete, não cansei muito e fui jogar futebol na quadra de cima, fiquei no gol no primeiro jogo, vencemos, no segundo, fui para a linha, perdemos, mas não foi culpa minha – é sério- e quando estou no meio do jogo, chegam os outros colegas de classe.
O Começo da Merda
Como todos já tinham parado de jogar bola, subi o morrinho que dá na pista de skate do bosque, conversei com eles e subimos um pouco mais, nós, os moleques, subimos mais rápido, pegamos um “atalho”, as garotas deram a volta. Lá existe uma espécie de altar circular de madeira, e uma casa no centro, como se fosse um píer, e à medida que vai se dando a volta no “píer” a altura do chão para o altar vai aumentando. Eu exibido, quis mostrar os movimentos do Le Parkour, e já sabiam como era, já tinham assistido “B-13” e etc... Sabendo disso, um colega que não me recordo quem era pergunta:
-Thiago, você consegue passar desta parte?
-Sim! –Eu disse, e ainda dei uma de bonzão: - Tá me zoando?
Realmente, antes quando eu treinava regularmente, eu conseguia fazer isso, fácil, fácil, e mais adrenalina e confiança fazia tudo funcionar, mas desta vez...
A COISA Que Doeu Para Voltar ao Lugar, os Comentários do Hospital e a ALEGRIA de “Pedra Branca” Que Usei Por seis Semanas- Fora Gastos- De Algo Irrelevante Chamado Pulso.
Quando disse para meus colegas que conseguia, eles duvidaram. Como achei que passaria de boa, disse na maior confiança. Antes, cheguei a olhar a altura e vi que era muito alto, diria uns 2,50 ou 3,50 metros no máximo, 4m, eu comigo mesmo disse: “Acho que não vou conseguir, mas fui à base do que se dane (fazer algo, sem se importar com as consequências) e me danei”.
No alto tudo para, e você sabe que vai dar tudo errado, mas você torce, ô se torce!
Fiz o movimento, no alto, olhei para baixo e pensei: Putz! Vou me machucar, parecia até que eu sabia o que iria acontecer, uma luxação, mas o buraco foi mais embaixo. Quando não se tem a prática, o hábito, não se sabe o que fazer, e dificilmente tem como pensar em algo instantâneo, somente o que irá fazer para não se machucar, geralmente é chamado de instinto. A ideia do movimento speed, é que se estiver em velocidade, é você deixar seu corpo em posição horizontal ao passar pelo obstáculo, e se estiver fazendo o movimento de um lugar alto para baixo, logo após o movimento, ficar em posição vertical e fazer o rolamento, para amortecer o impacto. Fiz só o movimento, não fiz o resto, e como já disse, sem prática, sem hábito, não tem jeito, você vai se complicar. Minha mão não se agrupou ao corpo e tudo aconteceu muito rápido...
Caí e levantei instantaneamente, dei um sorriso e acenei com os braços como um sinal de que tudo estava bem, mas eu sabia que não estava. Subi o morro e olhei para meu braço, achei que tinha sido uma luxação, mas foi mais complicado, FRATURA NO PULSO, é isso mesmo. Peso uns 54 kg em uma velocidade média de 15 km/h numa altura em queda livre de uns 2,50 metros, imagine a força do impacto! Meu pulso ficou totalmente deslocado, ele foi para baixo, em cima dos meus tendões, quase não conseguia mexer os meus dedos, parecia que estava esmagando-os, improvisei uma tipoia com minha camisa da escola, mas começava a incomodar, e havia um grupo de pessoas jogando UNO (o jogo que todo mundo joga) e reconheci um rosto, ela tinha estudado na mesma escola que eu havia estudado, só que em outra sala. Tá, mas e daí?
*A sorte foi que machuquei meu braço direito. Sendo canhoto, não tinha nenhum problema, mas as aparências enganam, e ainda mais quando você não percebe involuntariamente que sempre usa os dois braços para fazer quase tudo.
Quando vi que não estava nada bem, decidi ir ao hospital (minha mãe só iria descobrir ao chegar em casa).
Fui sozinho para o ponto de ônibus, e até lá, é uma longa caminhada, e quando cheguei, esperei por mais um tempo até o ônibus chegar, quando fiz o sinal, ao abrir a porta perguntei:
-Oi, eu machuquei o meu braço, posso entrar sem camisa no ônibus? (Detalhe: eu tinha que manter o meu braço no alto, e só tinha a camisa, não tive escolha).
-NÃO!- Disse o motorista.
Talvez ele tenha dito aquilo por achar que era brincadeira, mas nunca vi alguém sem camisa no ônibus. Erro meu.
Esse ônibus partiu em sua viagem e eu permaneci no ponto. Eu tive que colocar a camisa porque não iriam permitir que eu entrasse em nenhum ônibus daquele jeito. E assim, começou a batalha. Sem urrar uma única vez de dor, passei meu inchado pulso pela manga da camisa. Feita esta parte, como irei sustenta-lo no alto? Foi tudo muito estranho, mas enfim, o ônibus chegou, e por sorte minha, estava vazio.
Enquanto estava no ônibus, só olhava para o meu braço e para a rua para ver quanto faltava para chegar ao Stella Maris (fui besta, em vez de ir ao HMU, que era mais perto, fui do centro da cidade até o Itapegica, foi o que a recepcionista do S.Maris disse quando eu cheguei, mas eu não sabia qual era mais perto e na hora que me machuquei, nem pensei em outro hospital...) e quando chegasse lá, se iria pegar fila, se iria doer para colocar de volta o meu pulso no lugar. Meu braço estava muito inchado, estava horrível...
Chegando no hospital, sem querer, fui à ala particular, e eles logo me informaram que eu deveria ir à ala do SUS (Sistema Único de Saúde). Chegando lá, como tinha o cartão do ônibus com o meu R.G. gravado nele consegui ser atendido. Até aí, tudo bem, o problema foi que cheguei ao meio-dia, horário de almoço, tive que esperar. Esperei por quase duas horas, o sangue já tinha esfriado, (um dos fatos positivos nessa história, se é que tem um, foi que eu estava praticando um esporte, estava com a adrenalina a mil, com o sangue quente, costumo dizer que se eu estivesse em casa, e tivesse escorregado, causando o mesmo problema, a dor seria muito pior na hora) já estava começando a doer muito, queria descansar na sala de espera, tentei usar minha mochila como travesseiro, não deu certo, e ficava assim, tentava dormir, não conseguia e para piorar, aqueles programas sensacionalistas estavam no ar e estavam sendo transmitidos na tv da sala de espera, aqueles que menos me agradam, outra: o ambiente hospitalar não me anima nem um pouco (obviamente), sorte que eu estava na ala de ortopedia e lá não tem pessoas com sérios danos e etc... Traduzindo: não estava dando nada certo.
Quando finalmente fui atendido, o médico pediu para eu fazer um exame de raio-x na sala do outro lado do corredor, e antes de ir perguntei:
-Terei de colocar de volta no lugar?
-CLARO!!! (Ele não falou assim, só coloquei dessa forma para expressar a minha ignorância a cerca de ossos fora do lugar)
Você pode achar BURRICE minha, mas tenho pavor de raio-x! Isso que dá assistir muito filme de guerra, aquela coisa da radiação, que é verdade. O operador de raio-x tem mais cobertura em planos de saúde, mais benefícios, porque está sempre exposto a radiação, nada que o próprio op. de raio-x não soubesse. Mas resenha aqui e acolá, você não faz ideia do que eu fiz na sala, quando eu coloquei o meu braço na mesa ele disse para eu não me mexer, e eu disse do meu medo de radiação e toda a história citada acima e ele dispara:
-Você tem chumbo aí?
-O QUE!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!
Eu até comecei a procurar nos meus bolsos, mas não foi nada racional, achando que se eu tivesse chumbo, metade da cidade iria desaparecer... Como fui idiota!
Simples, se eu estivesse com chumbo, o raio não atravessaria!
A mesa do raio-x é revestida com chumbo para que só a parte do seu corpo desejada seja vista. Outra forma de explicar:
Se você já assistiu “Indiana Jones e o Templo da Caveira de Cristal”, quando Indiana percebe que está em uma cidade teste para bombas nucleares e um novo teste será feito, ele entra em uma geladeira revestida com chumbo! E ele sobrevive!!!
Deixando de lado o lado cinéfilo, e voltando a minha história...
Ele falou para eu não me mexer, e eu tenho certeza que fiz a alegria do cara para o resto do dia com o que fiz na sala...
Quando ele entrou em sua “salinha” e eu ouvi o barulho da máquina, entrei em choque! Eu, com o meu braço inchado em cima da mesa, me agachei, coloquei a outra mão no meu rosto para cobrir os meus olhos e mordi os lábios (tudo muito tosco, como o próprio narrador) e tudo isso aconteceu em menos de 3 segundos. Ele sai de sua sala e diz no maior tom profissional:
-Ok, agora, espere lá fora que eu já te entrego.
-Tá bom!
Quando recebi a chapa, levei ao médico, e só de bater o olho, já me pediu para ir a sala de gesso, que ficava em frente a sua sala. Naquela hora não pensava em mais nada, só na dor que eu ia sentir mais tarde, e como eles iam colocar de volta antes de engessar, perguntei desesperadamente se iria ter anestesia, ele, para minha felicidade momentânea, confirmou, mas logo disse que não iria fazer diferença pois eu iria sentir dor de qualquer jeito, e então pedi:
-Me dê anestesia geral!!!
Ninguém atendeu ao meu desejo.
Quando fui falar com as enfermeiras, uma delas me disse que seria a primeira vez que fizera isso. Como assim?!?! Tá querendo que eu sofra ainda mais?
E para piorar (se tem mais como), eu estava com medo até da injeção anestésica, mas teve que acontecer, e antes do “golpe fatal”, ele perguntou o motivo desta visita indesejável para todos ali naquela sala, disse da greve, do truco, da escapada para o Bosque Maia e do Le Parkour, mas ninguém sabia que esporte era esse, e expliquei que não era um esporte, era a arte do movimento, e eles já disseram:
-É, olha a arte aí!!!
E finalmente começou, a enfermeira segurou meu braço erroneamente duas vezes (não sei se era a novata ou a experiente), o médico a alertou, e ele foi puxando, doeu demais, e quando terminou, o gesso foi colocado até um pouco antes do cotovelo para ser feita outra visita ao raio-x e se fosse constatado na nova chapa que não voltou ao lugar, teria que remover o gesso e fazer tudo outra vez, mas felizmente, estava no lugar certo, e aí tive que colocar o gesso até quase perto do ombro, e outra, para o reposicionamento do meu pulso, tive que ficar quatro semanas (um mês) com o pulso “desmunhecado”, o médico chegou a falar disso na hora em que estava colocando o pulso no lugar, mas com razão, nem liguei na hora...
*Gritei tanto que quando fui embora, todos que estavam na ala ortopédica pensaram que estavam me matando na sala do gesso, até que perguntei para as recepcionistas se elas tinham escutado:
-Ouviram os meus gritos?
-Sim!!!- Todas responderam.
Com o raio-x na mão, o médico me receitou um anti-inflamatório e retorno em uma semana (detalhe, quando um retorno é requisitado, primeiro, você precisa ir a um posto de saúde, onde as filas são imensas e a má vontade predomina, marcar esta consulta, quem me dera apenas ir até o hospital e fim da história, mas isso já é outro assunto...).
A Reação da Minha Mãe
Cheguei em casa por volta das 15h e nem liguei para minha mãe para não a deixar preocupada, fui até a farmácia pedir o remédio, porém depois fui ao posto de saúde (tentando levar de graça) e lá tem aquele sistema de senhas que se puxa o número e espera ser chamado, tive que ser ajudado, pois naquele momento tudo parecia impossível de se fazer, e lá não tem anti-inflamatório (como o médico tinha me avisado), então voltei à farmácia e comprei o bendito remédio. Tomei banho com um saco plástico, com o maior cuidado possível para não entrar água dento do gesso. Neste dia, usei tipoia o dia inteiro.
Barulho do Portão Abrindo, Chegou a Hora!
Sem enrolar (só um pouco) abri a porta, ela que estava brincando com o nosso cachorro, Pingo, sorrindo apesar de mais um dia cansativo de trabalho, mas quando me viu na porta de casa “engessadamente sorridente” dizendo OI, “fechou a cara” na hora e de tão brava, queria engessar o outro braço também, e essa coisa de sexto sentido maternal é complicado não é? Ela te avisa, você não ouve, até se dar mal, e ela já tinha cansado de me alertar sobre o esporte que eu praticava:
-Eu não te disse que isso iria acontecer?
No momento de raiva ela queria me deixar de castigo do mundo, que eu não fizesse mais nada, que isso fosse servir de punição, mas tem como você prever que vai se machucar?
Depois que ela relaxou, disse para ela que isso acontece, e que conhecia pessoas que já haviam quebrado o mesmo braço várias vezes e que estão aí... Com toda a loucura inicial passada, e com um gesso intacto e todo claro, só tinha uma coisa em mente:
Assinaturas!
Foi insano. Desde a primeira vez que vi um gesso assinado, foi uma obsessão para a primeira vez que fosse engessado, ter o braço repleto de nomes, desenhos, e desejos de melhora. Tanto, que no meio da rua quando alguém comentava, eu sugeria a assinatura, todos que passavam por mim olhavam para o meu braço como se fosse um muro cheio de “pichações”! Gostando ou não, era destaque.
Evoluindo “Engessadamente”
Com o tempo, conseguia fazer quase tudo com os dois braços, jogar videogame, (aliás, no segundo dia engessado, tentei jogar Guitar Hero 3, no nível HARD, doeu um pouco, até me dá aflição em lembrar) fatiar alimentos, mexer no computador, e outras coisas... Bom quase tudo que eu achava importante.
Um Mês Depois...
A partir do 3º dia engessado, não andava mais com a tipoia, e por incrível que pareça, estava me acostumando com o gesso (o segredo é você não coçar o braço! Se você coça, não vai parar mais, você pode até dar uma coçada de leve, para relaxar um pouco, mas sua pele vai dizer: - Continua vai. Você não tá gostando? E isso nunca vai parar. Até você abrir uma ferida na sua pele, e causar uma infecção, e aí a merda vai ser pior. Tá coçando? Não tem problema. Se concentra em outra coisa, leia um livro.), e no 30º dia, era a hora da troca para o gesso reto para agora que o problema foi resolvido, deixar o meu pulso em sua posição normal. Mas eu iria deixar o “meu lindo gesso assinado” lá no hospital, isso me deixou triste. Por mim, colocaria em um quadro. Que papo de pessoa solitária, não?
A Troca de Gesso: Momento “Jogos Mortais”
Eu marquei uma consulta para a quinta-feira (30º dia de gesso), às 12h00min, eu estava na escola nesse horário (a partir do dia em que me machuquei, ficamos um pouco mais de duas semanas sem ter aula por causa da greve. Tanto que uma das minhas colegas de classe que estava no dia em que me lesionei no B. Maia, estranhou quando me viu com a metade do braço com gesso, até que eu tive de relembrá-la). Minha mãe me buscou, fomos muito rápido, mas em que tivemos de vantagem no caminho, tivemos de desvantagem no hospital. Após algumas “opinadas” de minha mãe, até que as coisas aceleraram. E quando fui à sala do médico, ele me disse que eu já citei um pouco mais acima, que eu iria usar um gesso reto, até o fim do antebraço, perto do cotovelo, até aí, nada de mais, porém, na hora da troca de gesso...
Vrummmmmmmmmmmmprprprprprprprprprprprprprp
Eu sempre soube que iria ser com uma “serrinha”, mas saber é uma coisa, acontecer com você é uma coisa totalmente diferente. Quando a enfermeira começou a remoção, eu a avisei que não tinha gesso em uma parte. Acho que ficou mole em função da água que entrara por dentro, pelo que vi, ela entendeu a mensagem. Entendeu, quase não compreendeu.
Ela começou de cima para baixo, do ombro até o pulso, ela quase passou a serra na parte que eu tinha dito que não existia gesso. E na sala, tudo ficava branco, resultado do pó que o gesso soltava. Meu gesso, tão bonito, se é que um gesso pode ser bonito, cheio de assinaturas, de todos os tipos de pessoas, (só lembro-me de uma pessoa que se recusou a assinar) e não estava fedendo, mas também é claro que minha mãe não iria me deixar leva-lo para casa. Ao final da remoção, a enfermeira o joga no lixo, sem nenhum remorso, como se não existisse memória naquele pedaço branco usado para fins ortopédicos... Deixado o momento melancólico de lado, vamos voltar ao subtítulo.
Durante a remoção, eu sentia que ela estava a poucos centímetros da minha pele, e eu me afastava, ela pedia para eu parar de me mexer, até que uma hora ela disse:
- Se você ir para trás, eu posso cortar o seu braço! (Essa equipe médica do Stella Maris, não deixa de pregar peças em mim).
Porque o momento “Jogos Mortais”? Na mesma semana, eu assisti as sequências 4 e 5 no mesmo dia, um atrás do outro. Imagine o grau de medo do jovem que vós escreveis?
Eu querendo que acabe logo, e a enfermeira superrelaxada. Quando a serrinha encontrou a parte fraturada, senti um grande aperto, e naquela hora, eu tive certeza de que um pouco mais, eu não teria mais a mão direita, eu estava aterrorizado, e minha mãe quase dando risada da minha cara, como se fosse um jeito de aprender a não fazer mais merda. Essa foi uma das poucas vezes em que fiquei totalmente assustado em fazer alguma coisa.
Novo Gesso, Porém, Frio Como um Cubo de Gelo.
Um pouco antes de o novo gesso ser colocado, tive a chance de ver como meu braço estava. Muito estranho, fino, enrugado, e pesado, não conseguia sustenta-lo no alto. Tentava, mas era em vão. Meu pulso desmunhecado, tudo muito anormal, como deveria ser. E ao colocar o novo gesso, foi como aprender a andar de bicicleta, tudo muito devagar, aos poucos meu pulso estava em posição normal. Senti-me mais leve. Naquele dia fazia frio, e com isso, meu braço parecia um bloco de gelo.
O gesso era pesado, eu ganhei uma nova tipoia do hospital, a outra que ganhei da primeira vez, já tinha dado fim nela há tempos. Eu queria ficar fashion, peguei aqueles cintos de pano que só servem para fechar casacos, peguei de um que minha mãe nem usava e utilizei como tipoia, ela era mais flexível e confortável do que a tipoia do hospital, isso quando eu a usava. Gostava da liberdade com o meu braço, e isso não me causou mal algum.
Com o gesso novo, quis criar uma regra de que ninguém assinaria esse novo gesso. Mas no dia seguinte na escola, não resisti. Todos que tiveram a oportunidade assinaram. E seria assim por mais 14 dias. E durante este tempo teria que ir ao posto, pegar fila e depois no hospital, pegar mais fila, para passar pela serrinha outra vez? Não! Se é só remover, por que não posso fazer isso sozinho?
Passados os dias, não via a hora de chegar a segunda quinta-feira após a colocada do meu novo gesso. Quando chegou, eu pensei: É só tirar não é? Eu não vou até o posto marcar consulta para passa por tudo aquilo outra vez (serrinha, Jogos Mortais, espera e etc...).
Pensando desta maneira, tive uma decisão teoricamente esperta, mas ousada: Irei remover o gesso na escola! E se você quer fazer o mesmo quando estiver engessado só precisará de:
*Água corrente.
*Tesoura.
*Paciência.
*Despreocupação em se sujar e parecer um mestre de obra, após o final do serviço.
*E um pouco (é claro) de estupidez.
Então lá vou eu, ando pelos corredores do Alice Chuery (minha escola) com uma tesoura, um braço livre, e outro pronto para finalizar sua dívida com a lesão. André, outro amigo de sala (não o André que estava no Bosque Maia quando me machuquei) me acompanhou até a torneira mais próxima. Chegando à torneira, deixo meu braço embaixo dela e abro-a. Na medida em que meu gesso foi ficando mais maleável, comecei a usar a tesoura, fui puxando algodão, faixas, gaze, entre outras coisas de uso médico. Enquanto isso, os outros alunos passam e me olham como se eu fosse louco, rebelde. Era o meu primeiro ano na escola, começo de ano, não conhecia bastante gente, mas faz parte. Desenrolando a história...
Vou tirando os pedaços aos poucos. A pia da torneira vai ficando toda suja, entupida, impossível de ver o fundo. Sinto um pouco de dor no meu pulso, mas o desejo de me ver livre daquele gesso agia como um analgésico naquele momento.
O tempo passava, o André me ajudou em boa parte do tempo, a torneira ligada, a pia estava quase transbordando. A inspetora do corredor me olhava torto, mas não é todo dia que se vê alguém removendo seu gesso dentro da escola, ainda bem que ela não me proibiu.
Finalmente o braço engessado foi libertado do domínio branco e petrificado do meu gesso! Mas ainda tinha a fisioterapia pelo caminho...
REMOVI O GESSO! Volto pra sala de aula. Feliz como uma criança em parquinho, mostrando para todos a minha realização. Detalhe: Isso aconteceu no primeiro ano do Ensino Médio.
Meu braço parecia uma tábua de madeira, reta, não conseguia mexer minha mão para os lados, se conseguia alguma coisa, movia com muito esforço, mas era melhor não fazer nada, e nesse dia, usei a tipoia para evitar choques no meu pulso.
Mesmo tendo removido o meu gesso na escola, eu precisava de um acompanhamento médico, fui ao mesmo lugar de sempre: STELLA MARIS.
Fiz um exame raio-x e advinha? Ele estava no lugar! Uma ótima notícia! Agora, faltava uma única pergunta antes de me despedir do último lugar que desejaria estar outra vez: E a fisioterapia? Achando que ele iria me recomendar um fisioterapeuta para algumas sessões, ele me diz que não precisa e me recomenda algo bem mais simples:
-Compre uma bolinha.
-Sério? O que eu faço com ela?
-Aperte-a.
-Só?
-E. Fique apertando e ao mesmo tempo tentando movimentar seu pulso para cima, para baixo, para os lados, e tentando girá-lo.
-Então tá! Adeus!
Eu já tinha uma noção de ele iria me dizer isso, só quis colocar uma dramaticidade na narrativa? Espero que tenha conseguido
Comprei a bendita bolinha, igual a aquelas que dizem ser para massagem, mas sempre acabam sendo usadas como um modo de entreter seu cachorro. Tendo o “aparato” em mãos. Fui firme à jornada, apertando, apertando-cima, apertando-baixo, apertando-direita, apertando-esquerda.
E assim por umas boas semanas, meu pulso foi recuperando sua forma natural e bem ao tempo do meu aniversário que é dia 20 de maio. Faça as contas:
Machucado- 11/03/10 quinta-feira, engessado e etc...
Troca de gesso, do virado para a esquerda, coloquei um totalmente reto um mês: 08/04/10 quinta-feira.
Minha própria retirada na escola: 22/04/10. Duas semanas depois
Aniversário: 20/05/10, quase um mês depois (imagine passar o aniversário de 15 anos engessado?).
Acho que as coisas se desenvolveram bem.
Hoje, um ano depois, consigo fazer tudo o que eu fazia antes, talvez ainda com um pouco de dor, ele não dobra 100%, mas por volta de 95% de flexibilidade eu sem dúvida tenho. Mas a vida é assim não é? Temos que arcar com o que fazemos, senão, de que outra forma iremos aprender? Agora, sempre que vou fazer algo “arriscado” sempre penso duas vezes. Não estou dando lição de moral, é um saco. Faça o que quiser da maneira que quiser. Viva intensamente, mas faça a merda valer a pena. Só assim as coisas serão valorizadas, e você, eu, todos nós vamos entender o que é sabedoria.